21º. Triathlon Internacional de Santos 2012: Uma prova dez
Logo na chegada, topei com o organizador e resolvi-lhe perguntar aquilo que há algum tempo já cozinhava na minha cabeça. Se ele se lembrava de que eu estivera ali, no Gonzaga, em 1992, participando do 1º. Triathlon Internacional de Santos 2012. Ou se ele sabia que eu, naquele momento, acabara de completar a minha 19ª edição da sua prova. Verbalmente ele não ficou mudo, porque esta nunca é sua característica. Em conteúdo, porém, a minha observação ficou sem resposta. Para aqueles que, como eu, há anos ou décadas descem a serra para participar desta prova, não há nenhum afago, nenhum reconhecimento. Para o organizador somos sombras que vem e vão despercebidas. Cansado disso e da prova resolvi partir para meu bem merecido banho de gelo. Pela 19ª vez, após cruzar a linha de chegada, recebo a enorme medalha de "Finisher" (já se passou a época em que alguma jovem pedia licença para pendurá-la no seu pescoço) e a camiseta "Finisher" (para quê, se já recebi uma camista no kit da prova? Todos guardinhas de rua, catadores e flanelinhas do meu bairro já estão uniformizados com elas), dobro a primeira à direita e novamente a primeira à direita, chego à barraca médica onde, agora já na horizontal, deixo-me encharcar com água gelada durante os próximos 10 ou 15 minutos até recobrar meus sentidos físicos e mentais.
Fato é que nesta prova existe uma distinção equivalente à Corrida de São Silvestre, em que há a elite. E há a categoria geral, a boiada. Em Santos é semelhante. Aos profissionais é dada a máxima reverência, enquanto amadores são tratados como meros coadjuvantes. O tratamento dado aos profissionais é merecido. É só consultar os resultados e vê-se que a grande maioria destes realmente faz parte de outra liga. E são eles que fazem da competição um show, com suas grandes performances, seu equipamento de primeiríssima linha e apresentações coloridas e estrelares. Eles atraem os patrocinadores para um evento, fato do qual todos participantes se benefeciam. Mas muitos dos amadores também não ficam muito para traz, apesar de não poderem se dedicar ao esporte em tempo integral, terem orçamentos restritos pela falta de apoio de patrocinadores e sem poderem contar com a assistência de um "entourage"
composto de massagista, RP, nutricionista etc. E é este contingente de amadores, que no domingo em Santos representou mais de 95% de todos participantes, foi responsável por parte proporcional no faturamento do evento. Nada mais justo, portanto, do que tratá-los de forma adequada.
No domingo, meu afago veio do público e dos amigos presentes. Aquí e ali escuto meu nome junto a palavras de incentivo que me impulsionam para a frente. Com aquele calor, aquela umidade e depois do pedal um pouco caprichado demais, quantas vezes não passou pela minha zonza cabeça dar só uma paradinha ou caminhadinha? Mas aí vinha outro "Vai, Joaquim". Calado, reergo minha motivação, vou em frente, seguindo a ordem recebida. Algumas são vozes conhecidas, outras anônimas, todas sinceras e animadoras. Sem desperdiçar forças, não olho, não me manifesto, sigo meu caminho. Mas uma coisa é claro: sem este carinho da torcida meus tempos seriam outros.
Enquanto houver o reconhecimento do meu desempenho naquele asfalto escaldante da forma como houve domingo, não dá para pensar em parar.
Após a sua 21ª. edição, o "Internacional" mereceria uma atualização. Um revamp, um botox aqui, uma lipo ali, um pouco mais de capricho na maquiagem, para trazer este evento dos anos 90 para o século XXI. Alguns detalhes técnicos merecem mudanças. Mas também a sua imagem precisa de um redesenho.
Em produtos isto é praxe, porquê não fazê-lo em serviços? Tecnicamente, o assunto "vácuo" demanda uma atenção especial. Há soluções. É só querer e abrir os olhos para o que é feito em outras provas mundo afora. Do jeito que está, os tempos e resultados dos atletas devem ser analisados com ressalvas.
A mudança de horário, pelo outro lado, foi bem vinda devido ao intenso calor nesta época do ano em Santos. Mas o que falar, então, da liberação do uso da roupa de borracha com a temperatura da água a 25 ou 26ºC? Pessoalmente, diante das minhas habilidades restritas na água, a roupa de borracha vem a calhar e sem ela meus tempos seriam bem menos vistosos. Mas não é correto e deveria valer a regra da ITU para esta distância, aplicada mundialmente, que determina que o uso de roupa de borracha é proibido quando a temperatura da água esta a mais de 22ºC.
Quanto ao meu resultado, fiquei satisfeito. Sempre fico. Sou muquirana, a inscrição é uma facada, então pelo menos quero tirar o máximo proveito.
Treino bem e piso fundo durante a prova, bem fundo mesmo. E deu no que deu:
pela 10ª. vez campeão na minha categoria, nesta que é a prova mais tradicional do calendário brasileiro de triathlon.
Valeu, Saucony!
6 comentários:
Com razão!!
muito digno..seu resultado e suas palavras..Infelizmente, a prova só foi perdendo brilho e espaço no decorrer dos anos, não é mais uma prova Internacional, não tem mimos..nem diferenciais, hoje fazer esta prova e um troféu brasil, tem o mesma estrutura e consideração.
Vamos ser otimista e vamos seguir acreditando que tudo poderá se diferente.
vc sempre faz um excelente prova e merece muito mais do que um trofeu bonito.
abraço
Enquando o Núbio estiver na zona do conforto será este nível de organização de prova que nos restará...
Mas sugiro ele abrir os olhos, afinal GP, IMX e ONE parecem estar com apetite no Triathlon...
Tomara!!!
Parabéns Joaquim, pelo prova e pelas palavras!
Perfeito !!!!!!!
por isso que você é meu ídolo e faço questão de perder só de você rsss
VÔlela
Parabéns Joachim !!
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